“Malick”: Filme é inspirado na história de um imigrante senegalês, vítima de tráfico humano, que busca reconstruir sua vida no Brasil

Longa-metragem foi gravado em Porto Alegre e está em fase de pós-produção

Foto: Modou Awa Dieye | Crédito: Luís Ferreirah

O filme “Malick”, inspirado na trajetória de Modou Awa Dieye, um senegalês vítima de tráfico humano que encontrou refúgio em Porto Alegre, acaba de encerrar suas filmagens. A produção, que contou com mais de 80 profissionais e diversas ações afirmativas, promete ser um marco no cinema nacional.
 

A história de Malick é um retrato da realidade de muitos imigrantes que buscam um novo começo no Brasil. O filme aborda temas como tráfico humano, adaptação cultural e a luta por dignidade. Para o diretor Cassio Tolpolar, a busca por autenticidade foi um dos maiores desafios da produção. “Envolver a comunidade senegalesa, trabalhar com não-atores e utilizar o uolofe como um dos idiomas principais do filme foram experiências enriquecedoras. Contar essa história é uma pequena forma de reparação a todos os povos que sofreram e sofrem perseguições e discriminações, e que são forçados a se deslocarem de seus países e casas”, destaca Tolpolar.
 

A roteirista Adry Silva ressalta a importância de preservar a cultura senegalesa no filme, destacando-se a inserção do uolofe, uma língua falada no Senegal – a oficial é o francês – e será retratada em diálogos dos personagens estrangeiros “Preservar a cultura sempre é uma prioridade nas minhas narrativas, isso também aproxima o elenco da história que está sendo contada. Algumas emoções são melhores expressas na língua materna e isso enriquece o filme e valoriza o ser humano retratado.”, afirma Silva.
 

Modou Awa Dieye, além de inspirar a história, também atuou como codiretor e corroteirista do filme. “Foi um processo desafiador, mas também muito gratificante. Sinto que cresci como artista e como pessoa ao fazer parte desse projeto”, revela Dieye.
 

No elenco, além de Modou Awa Dieye, também há outros senegaleses, como Fallou Kourouma, que interpreta Bamba, e Mamadou Abdoul Vakhabe Sène, chef de cozinha senegalês que vive em Porto Alegre e interpreta Amadou. Dando vida ao personagem Carlos, o ator gaúcho Álvaro Rosa Costa também é um dos destaque do elenco do filme, que também é composto pelos brasileiros Pâmela Machado, que interpreta Ana, Frederico Vittola, que interpreta Toni, e Marcello Crawshaw, que dá vida ao coiote.
 

A preparadora de elenco Laila Garroni destaca a importância do intercâmbio cultural na produção. “Trabalhar com senegaleses me coloca em constante estado de humildade e de aprendizado. Em muitos momentos, é extremamente desafiador gerenciar esses dois mundos. Mas, ao mesmo tempo, para mim, que acredito que a indústria cinematográfica precisa ser reformulada para ser menos adoecedora, principalmente para criadores negros, esse novo tempo imposto pelo intercâmbio cultural desse projeto é uma chance de entender novas formas de se fazer cinema”, afirma Garroni.
 

Ao trazer a história de um senegalês ao centro do filme, foram implementadas ações afirmativas ao longo do processo pelo diretor de produção, Vandré Ventura, como um maior número de profissionais negros em diferentes áreas e, durante as gravações, a cada dia, um profissional negro teve seu nome em destaque na claquete. “Com essas ações, a ideia é humanizar essas pessoas, dar visibilidade. Malick é um filme difícil, sensível, mas é um filme político também. Como homem negro, diretor de produção em um espaço tão elitizado, tão machista, transfóbico, homofóbico e racista são muitas as janelas e os gatilhos que me atravessam. Malick sobrevive e resiste, eu também, Malick quer existir nessa sociedade que insiste em nos invisibilizar, e eu também.”

O Filme Malick

Primeiro longa-metragem de ficção da produtora audiovisual gaúcha Mamaliga Films, “Malick” já participou dos laboratórios de roteiro Varilux e Luzes da Cidade, dos mercados audiovisuais SP Cine Pitching e Cine Esquema Novo e das rodadas de negócios do FRAPA e Roteiros e Narrativas. Também fez parte do programa Accelerator do SEE Fest Film Festival em Los Angeles.
 

“Malick” tem direção de Cassio Tolpolar e codireção de Modou Awa Dieye; roteiro de Adry Silva, Cassio Tolpolar e Modou Awa Dieye; e produção-executiva é de Ana Luísa Moura e Pam Hauber. O projeto está sendo realizado com recursos da Lei Complementar nº 195/2022.

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