E tudo começou com uma pergunta da influenciadora digital Carol Rocha, conhecida como Tchulim, no Twitter: “por favor jovens da geração Z, me contem o que vocês acham um mico nos millennials (acho que falar mico já passou, é cringe ne?)”. Alguns adolescentes responderam a pergunta na ironia, inclusive haviam shitposters (pessoas que substituem o verdadeiro conteúdo de um texto, foto ou vídeo, por um conteúdo sarcástico e até agressivo, ou por uma piada). Resumindo: não era nada para se levar a sério, até porque as listas foram criadas por pessoas atrás da tela de um computador, tablet ou smartphone, que ninguém faz a mínima ideia de quem seja e podiam ser até haters.
E eis que começou a discussão entre adolescentes e adultos, após os denominados “geração Z” responderem coisas como: “tomar café da manhã, tomar café, gostar de Harry Potter, ser fã da Disney, ouvir Rock”, entre outras, que referiam-se mais sobre um gosto pessoal do que a algo realmente “vergonhoso”. Ah! E para quem não sabe, a gíria “cringe” significa “vergonha alheia”, portanto, vale ressaltar que o sentido da palavra foi deturpado pelos adultos que pegaram a história pela metade e agora estão utilizando cringe desenfreadamente para tudo que não faz sentido com o verdadeiro significado da palavra, inclusive para referir-se a coisas antigas.
A verdade: Cringe nunca foi um termo utilizado pela geração Z somente para definir costumes “cafonas” dos millennials, como estão divulgando por aí, e sim um termo que se refere a “vergonha alheia” no geral, independentemente da geração a qual a pessoa se encaixa. Saiba que inclusive, é cringe falar cringe, pois a partir do momento que a palavra foi deturpada, está realmente sendo vergonhoso utiliza-la, como a maioria está fazendo.
E como isto aconteceu? O BuzzFeed utilizou as respostas de alguns destes adolescentes e shitposters no Twitter e montou um teste para saber o quão cringe era uma pessoa. Sabe aqueles testes para saber se o crush está interessado em você? Pois é, não dá para levar muito a sério, não é mesmo? O problema é que, por incrível que pareça, quem levou este termo a sério foram os adultos, pois praticamente quase ninguém da geração Z utiliza esta palavra e muito menos leva ela a sério. Desde então, saíram até matérias explicando o que era cringe de uma forma deturpada e como fonte, pasmem, colocaram as respostas dos adolescentes no post da influenciadora do Twitter, como se aqueles adolescentes que responderam a pergunta com coisas sem sentido, falassem por toda uma geração. A partir de então, tanto os millennials quanto os gerações Z estão sem entender ao certo de onde tiraram estas afirmações irrelevantes do que é cringe e o que não é.
A palavra cringe que era utilizada como meme e ironia, de repente estava sendo utilizada “ao pé da letra” e mais, em frases que não faziam sentido algum com o seu verdadeiro significado, por adultos que começaram a se chamar de cringe de uma hora para outra. Um item polêmico foi a calça skinny. Ela está ultrapassada? Já estava previsto pelos especialistas de moda que a tendência seria das calças mais largas. Entretanto, segundo a internet, a geração Z desaprova este item e quem usa são somente os millennials, mas quem exatamente? Ao sair na rua, há vários adolescentes que ainda utilizam esta peça e que usam o cabelo de lado (que também foi classificado como cringe), que bebem café e etc. Há vários jovens da geração Z sem entender o que é cringe, que não veem sentido no que foi classificado como cringe e que não se sentem enquadrados neste padrão. Então logo percebemos que a geração Z a que tanto se referem, corresponde a uma pequena bolha, o que não surpreende, com destaque para os adolescentes de classe média alta do TikTok e que passam o dia todo no Twitter.
O que é mais assustador são os rótulos insustentáveis que estão utilizando para estigmatizar o comportamento de todas as pessoas por gerações, ou seja, quem é da geração Z, automaticamente é descolado e atualizado sobre moda, os demais já são ultrapassados. Isto não faz sentido e é preconceito, sim. Estar ou não atualizado com as tendências de moda é algo pessoal e não tem nenhuma relação com a idade, muito menos os demais rótulos criados por gerações, como ser preguiçoso ou não, ficar mais tempo online ou offline, entre outros. De repente, parece que tudo que é divulgado na internet se torna verdade e a vida real é mascarada. Então várias pessoas que não conheciam a palavra cringe saem repetindo coisas sem sentido, como se tudo que tivesse acontecido no início dos anos 2000, anos 90 e décadas anteriores fosse cringe. E eis que surge a discussão mais “tosca” de 2021. Cringe é irrelevante, não existe, é tolo, é modinha passageira, é uma palavra deturpada. É isto!
Vale ressaltar que, atualmente, as lutas por diversidade e respeito têm aumentado para ganhar a visibilidade merecida. Então faz mesmo sentido classificar as pessoas com rótulos que não correspondem com a realidade, com base na idade e na geração? Isto sim é ultrapassado. O nome disto é: preconceito!