Mês das franquias: o que avaliar para não cair em ciladas? Especialistas dão dicas

Apesar de ser mais seguro empreender por franquias, na comparação com negócios independentes, o mercado tem vários casos de franqueados que perderam todo o investimento e acabaram endividados

Maior feira de franquias do planeta, a ABF Expo – que neste ano aconteceu entre dos dias 26 e 29 de junho, em São Paulo – costuma ser o pontapé inicial para muitos brasileiros realizarem o sonho de se tornar dono do próprio negócio.

Cada vez mais, as franquias desempenham papel de inclusão empreendedora no país, com uma taxa de mortalidade muito inferior à de empresas em geral. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), a taxa de mortalidade das franquias é de apenas 2,9%, em comparação com cerca de 20% no caso das pequenas empresas que operam de forma isolada (dados do Sebrae). Tal diferença é resultado direto do pacote de conhecimento, treinamento, marketing e gestão que as redes transmitem aos seus franqueados. 

Ainda assim, os candidatos a franqueados precisam tomar uma série de cuidados para não cair em ciladas. Em meio às redes que trabalham com seriedade, prestando todo suporte aos franqueados, algumas marcas prometem lucros fáceis, tentando – e, muitas vezes, conseguindo – captar investidores pela emoção. Neste embalo, empreendedores sem conhecimento correm o risco de perder todo o investimento e acabarem endividados.  

Além de pesquisar o histórico da franquia que se deseja adquirir, quem vai empreender no setor também precisa ficar atento a fatores que serão essenciais para se atingir o equilíbrio da operação, segundo Filomena Garcia, sócia do Grupo Cherto, principal consultoria brasileira especializada em franchising. Conforme Filomena, os principais pontos a serem observados são:  

  • Suporte: a estrutura que será oferecida para o franqueado que vai iniciar seu negócio. Exemplos: treinamento, ação de marketing, acompanhamento da operação etc.
  • Maturidade do negócio: quanto tempo a rede existe, quantas lojas são próprias e franqueadas, há muitos casos de franqueados com mais de uma unidade? Quantas unidades fecharam no último ano?
  • Transparência: nenhuma rede está 100% pronta o tempo inteiro porque o mercado é dinâmico, e isso tem de ficar claro. Questione as dificuldades que a rede enfrentou, como foram superadas, projeto de expansão, cases que não foram para frente e cases que são destaque.

Para Bruno Semenzato, CEO do Grupo SMZTO, fundo de investimentos especializado em franquias, o empresário deve estudar a fundo a empresa, seus donos e suas estratégias. “Isso é tão importante quanto avaliar o quão sólido é o modelo de negócio da franquia em si.” 

O alerta é necessário, de acordo com Bruno, porque muitas marcas de franquias brasileiras ainda são muito jovens e/ou inexperientes. Ele sugere três questionamentos ao franqueador: 

  1. Quem são as pessoas que estão à frente da empresa?

É muito importante conhecer como pensam as pessoas que lideram a marca no dia a dia e entender, principalmente, se são comprometidas com o sucesso de seus franqueados em primeiro lugar. 

  1. De que forma essas pessoas são vistas dentro e fora do mercado de franquias?

Muitas vezes esse é o tipo de resposta que não conseguimos encontrar na primeira página de resultados do Google. Portanto, fuja dos empreendedores que se preocupam mais em se mostrar como bem-sucedidos do que em construir uma empresa bem estruturada e com todos os pilares importantes para o sucesso de seus franqueados no longo prazo. 

  1. A rede investe na formação de um time de excelência e em inovação?

É muito comum vermos fundadores que se preocupam mais em retirar todos os rendimentos da empresa do que em reinvestir para construir uma empresa sólida no longo prazo. Assim, busque marcas que reinvestem seus rendimentos. 

Parceria e exemplos concretos 

Ambos os especialistas ressaltam que uma franquia séria não maquia números e se mostra sempre presente na operação de seus franqueados. 

“Solicite exemplos concretos de problemas que aconteceram e a forma como foram resolvidos. Por exemplo: a falta de embalagens no mercado foi contornada pela franqueadora que desenvolveu junto ao fornecedor um modelo alternativo”, sinaliza Filomena. 

Já Bruno Semenzato sugere que o empreendedor busque números reais sobre o tempo de maturação do negócio. “É importante ficar bem claro para o candidato à franquia qual será o seu investimento inicial, quanto será preciso de capital de giro, o tempo de maturação para ele conseguir o equilíbrio para começar a lucrar e qual será o seu percentual de lucro para não se frustrar no meio do caminho”, diz.  Outro ponto essencial é entender a logística do negócio. Como funciona o abastecimento da loja, se há troca de peças de uma estação por outras da nova estação sem custo, no caso do ramo de vestuário, ou centrais regionais de abastecimento, no caso de redes do setor de alimentação, por exemplo.