Por Francisco Borges (*)
Vivemos hoje um cenário único no Brasil, com uma geração de jovens formada por mais de 50 milhões de pessoas entre 15 e 29 anos. E se ela é o futuro do País, que esperança podemos ter diante da falta de políticas públicas específicas para as juventudes?
Acostumados com as belezas naturais, a abundância de terras e sem nunca ter passado por guerras, catástrofes naturais ou algo do gênero, o brasileiro deixou de valorizar o meio ambiente, as oportunidades à sua frente, a educação e se tornou um povo desperdiçador. Alguns pequenos fatos corriqueiros, que vemos no nosso dia a dia, mostram esta falta de preocupação com os bens comuns e os avanços sociais, na contramão do senso de coletividade. Isso tem uma grande relação com a educação, pois somente a partir dela é que podemos nos desenvolver como nação, crescendo por meio de nossa ciência, de nossas descobertas, tendo como norte a preocupação com o bem-estar de todas as camadas da sociedade.
Neste momento da história, onde o mundo precisou se recolher diante de uma pandemia e se reestruturar para um modelo de interação com a sociedade mais digital e menos presente, vimos o desemprego dos jovens avançar, assim como a evasão escolar, que, se não combatida, terá impacto enorme não só no futuro e nos sonhos dos jovens, mas nos de suas famílias e do Brasil.
A percepção dos pais de que as juventudes, principalmente, não se sentem conectadas à escola não é um fenômeno que surgiu com a crise sanitária, mas piorou muito com ela. Por outro lado, o novo coronavírus escancarou como os jovens não se sentem acolhidos também no mundo do trabalho, demonstrando a falta de uma consciência coletiva.
A individualidade está ainda mais aflorada. É necessário que este panorama seja mudado. Lideranças e corporações devem estimular o coletivo, o jovem, a educação. A geração Z, nascida a partir de 1995, tem de ter fomento para estar na sua plenitude como força de trabalho, no entanto, grande parte se encontra desmotivada, sem trabalho, sem estudos, compondo o grupo mundial de “nem-nems”.
Estamos em fase de Enem, às vésperas dos vestibulares, mas o tempo deve ser o de construir algo para o futuro. O tempo é limitado para formar nossas juventudes. Temos uma oportunidade grandiosa em vista com o novo ensino médio, mas ainda existe uma dissociação entre a educação e o mundo do trabalho na formação de nível médio, e esse fato condena milhões de jovens a terminar esta etapa pouco preparados.
Ainda hoje, o Brasil não dispõe de uma política nacional para os jovens que estabeleça ações articuladas e que proporcione oportunidades de formação profissional para todos ou promova uma educação de qualidade que possibilite o prosseguimento dos estudos. Na internet, explodem temas como desemprego, evasão escolar, desigualdade social, burn out e isso decorre de uma falta de motivação, de pouco empenho coletivo, em um momento em que as empresas têm os seus colaboradores em home office. Os períodos longos isolados prejudicam a conexão entre as pessoas.
Todo este cenário piora quando associamos à economia fraca, ao alto desemprego e às baixas perspectivas de evolução econômica e social pela conjuntura. É preciso olhar além, fazer um esforço e entender que a evolução só se dará por meio de incentivos na educação, na redução da desigualdade social e na abertura de possibilidades para que os jovens possam brilhar e ganhar o mundo por meio do conhecimento.
O momento do País é muito delicado, com os jovens cada vez mais querendo ser jogadores de futebol, blogueiros, influencers e gamers, mas o que não está sendo levado em conta é que esta mentalidade que movimenta toda uma geração provoca o afastamento do caminho dos estudos, da resiliência, da construção e do crescimento.
Estudar e construir repertório, atuar em situações de aprendizagem, é desenvolver respeito ao outro, é agregar valor à toda uma sociedade. É hora de unirmos forças para mudarmos o atual cenário e garantirmos oportunidades de futuro. A educação é o vetor do desenvolvimento de todo um país; a juventude é o futuro e, a nós, cabe garantir que o amanhã seja produtivo, valioso e capaz de levar esta geração de jovens ao alcance de todo o seu potencial.
Apenas através da educação é que podemos construir um Brasil melhor. Não há rotas mais curtas ou escapes, é preciso criar ferramentas para preparar a juventude brasileira para ocupar as novas oportunidades na velocidade necessária e com uma mão de obra qualificada. Não haverá desenvolvimento socioeconômico, consciência de coletividade e nem redução da desigualdade sem a inserção produtiva da juventude e acesso a uma educação de qualidade.
* Francisco Borges é mestre em educação e consultor de políticas educacionais da Fundação FAT – Fundação de Apoio à Tecnologia