Além de ser uma opção econômica para os consumidores, a cultura de brechós oferece para os empreendedores uma oportunidade de renda extra, e ainda espalha mensagens socioambientais
Chegando em novembro na sua 4ª edição, a Feira de Brechós “Breshow”, já se tornou referência de evento de consumo consciente em São Paulo. A feira é realizada pelo centro comercial, cultural e gastronômico a céu aberto Pátio Metrô São Bento, em parceria com o Les Chapeliers Brechó. O evento acontece nos dias 22 e 23 de novembro, das 10h às 18h.
Nos dois dias de evento serão mais de 20 brechós diferentes, entre eles expositores especializados em roupa sem gênero, roupas de marcas internacionais, peças vintage, óculos diversificados e muito mais, com preços a partir de R$5.
Mas por trás do que aparentemente seria apenas um evento de comercialização de roupas, encontram-se histórias de superação, exemplo de pessoas que arregaçaram as mangas para driblar a crise, valorização da moda sustentável e propagação de causas sociais.
Consumo Consciente
Dentre os mais de vinte participantes estará o estande “Bia Vende Tudo”. O brechó é de propriedade da empresária Bianca Alcântara. Ela conta que o brechó surgiu há pouco menos de um ano após um processo de terapia. Bianca confessa que era uma pessoa consumista e que chegava a gastar R$1 mil em um dia de compras, mesmo sabendo que as roupas que havia comprado não seriam utilizadas.
“Com a terapia eu fui entendendo quais eram os gatilhos que me faziam consumir para suprir anseios emocionais. Comecei desapegando das minhas roupas e depois comecei a garimpar nos bazares para revender. Hoje em dia o brechó é a minha principal fonte de renda. Eu continuo comprando, mas agora para revender, sempre pensando e dialogando com as pessoas sobre o consumo consciente”, afirma.
Oportunidade na crise econômica
Com a crise econômica que afeta o país desde 2014, milhares de brasileiros precisaram arrumar outras fontes de renda, sem contar as pessoas que acabaram perdendo seus empregos. Precisando arranjar um meio para sobreviver e tocar a vida, muitos acabaram encontrando nos brechós a solução para fazer dinheiro. Essa história é comum a pelo menos duas participantes da 4ª Breshow.
A primeira é Maria Regina, proprietária do “Brechó da Gina”. Ela conta que durante o auge da crise brasileira começou a buscar alternativas de trabalho. Regina acabou encontrando na revenda de roupas não apenas um novo hobby e um trabalho, mas uma nova cultura de vida sustentável e de reuso.
A fundadora do brechó “Santo Achado”, Michelle Freitas, é uma das pessoas que acabou engrossando a fila do desemprego no meio da turbulência no país. Após perder um emprego fixo, há um ano, ela conta que começou a planejar o que viria a ser sua principal fonte de renda.
“Eu me encontrava desempregada e trabalhando como freelancer e vendendo cosméticos, uma amiga resolveu montar um brechó e começamos a juntar as peças encostadas no armário. Fizemos uma parceria nesses produtos e atendia uma vez por semana para ela. Após formar a parceria no brechó desta amiga, fui tomando gosto pela coisa, sempre gostei de moda e achei fascinante esse ramo”, relata.
Ela conta que depois das parcerias e trabalhos em conjunto, ela decidiu abrir seu próprio brechó neste ano. O Santo Achado nasceu em julho no bairro do Cambuci, na região Central de São Paulo.
Encurtando fronteiras
A atriz Carol Andrade, uma das responsáveis pelo Les Chapeliers, encontrou no brechó uma maneira de dar acesso às pessoas a marcas internacionais por um preço justo e, ao mesmo tempo, foi um jeito de conhecer novas culturas e países.
“O brechó virou realmente uma forma de trabalho prazeroso, ecológico e com retorno financeiro que faz a diferença. Há mais de um ano planejei viagens através do brechó para alguns países em busca de peças inusitadas e que carregam a cultura de outros países, tais como França, Inglaterra e México. Meu propósito de vida é conhecer o mundo com a ajuda da minha atividade no brechó”, conta Carol.
Causas sociais
Atualmente, mais do que um forma barata de se consumir roupas e acessórios, os brechós se tornaram também um meio de propagação das mais diversas causas. A proprietária do brechó “Use me Tender”, Roberta de Melo, usa seu negócio para divulgar a causa da moda sem gênero. Pretendendo desfazer estereótipos de gêneros, todas as peças do brechó não possuem diferenciação de masculino e feminino.
“Sempre fui bem preocupada com a produção de lixo e amo garimpar estilos e peças únicas. Além disso, nunca tive isso de roupa feminina e masculina. Eu sempre usei a roupa que eu gostasse. Aí então surgiu a ideia de brechó sem gênero, o Use me Tender, que em português significa ‘me use com ternura“, explica Roberta.
Outro brechó que participará da 4ª Breshow e que possui um apelo social é o da ONG “Por amor aos animais”. Todas as peças e acessórios comercializados pelo grupo são revertidos para o acolhimento e tratamento de animais abandonados em São Paulo.