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Voos sem pilotos podem ser uma alternativa econômica para companhias aéreas no futuro; mas essa discussão deve passar, antes, pelos requisitos de eficiência e segurança.
A simples possibilidade de passar pela sala de embarque de um aeroporto pode causar verdadeiro terror em certas pessoas. Algumas delas têm um medo impeditivo. Um caso notório é o da atriz norte-americana Whoopi Goldberg, que frequentemente viaja pelos Estados Unidos num ônibus próprio. Outras, embora reconheçam o desconforto, enfrentam-no com a coragem ou com uma boa dose de calmantes. Pouco adianta relatar aos “aerofóbicos” as remotas possibilidades estatísticas de acidente; afinal, a questão escapa à racionalidade e deve ser entendida no nível psicológico. E as últimas notícias tecnológicas podem ter efeitos negativos para aqueles que não confiam tanto assim nas máquinas: num futuro próximo, talvez os aviões voem sem pilotos.
Essa discussão está em pauta nas duas maiores fabricantes de aviões comerciais, a norte-americana Boeing e a europeia Airbus. O objetivo seria reduzir custos, já que com a demanda crescente de viagens aéreas, mais de 800 mil novos pilotos podem ser necessários nos próximos 20 anos. Um estudo do banco suíço UBS estima que a remoção de seres humanos do cockpit poderia gerar uma economia superior a US$ 35 bilhões por ano. Realmente, é muito dinheiro para um setor econômico bastante instável, que frequentemente trabalha com margens apertadas de lucro.
Quanto à questão da segurança, alguns especialistas ponderam que um voo totalmente automatizado teria chances ainda menores de sofrer alguma ocorrência grave do que aqueles comandados por pilotos humanos. De fato, o controle de uma aeronave já é uma das atividades humanas mais intermediadas por equipamentos automatizados. A rigor, os primeiros modelos de piloto automático são ainda de 1912, anteriores à I Guerra Mundial – época na qual os aviões estavam apenas iniciando sua jornada. E hoje a eletrônica embarcada comanda a maior parte dos procedimentos. A questão principal a ser enfrentada é que também há falhas possíveis na programação, nos algoritmos envolvidos em uma atividade tão complexa. E, então, a experiência de um piloto humano seria fundamental para evitar o pior.
Uma solução intermediária seria contar com a tecnologia para reduzir o número de tripulantes a bordo. O UBS estima que manter apenas o piloto (dispensando-se a presença do copiloto) já resultaria em economia significativa, de cerca de US$ 15 bilhões por ano. E esta alternativa pode realmente estar mais próxima da realidade. As chamadas “operações monopiloto”, podem ocorrer já a partir de 2022.
Independentemente dos interesses empresariais ou trabalhistas envolvidos, o certo é que assim como ocorre em todas as atividades que envolvem tecnologia, a automação está levando a aviação para uma nova era, na qual as transformações serão cada vez mais intensas. A questão para essa indústria vital ao desenvolvimento e ao bem-estar globais, portanto, é conciliar na medida exata a adesão a novas ferramentas que apontam ao futuro, trazendo economia que possa beneficiar o consumidor, ao mesmo tempo em que implementa ainda mais os elementos de segurança.